BOTTINI, Ciro. Venda,
venda, venda: o mais famoso vendedor do Brasil mostra como você pode criar sua
marca pessoal e alcançar o sucesso. Rio de janeiro: Thomas Nelson Brasil,
2013.
O
livro de Bottini está organizado em sete capítulos, além de um prefácio e um
adicional sobre dicas de vendas. O convite aceito por Lula Vieira, um
publicitário experiente na área de comunicação, propaganda e marketing para
prefaciar a obra, privilegia a área em que ambos se destacam- jogar com as
palavras e criar uma necessidade para o leitor comum, nem sempre considerada
básica: comprar livros com a intenção de melhorar seu desempenho profissional.
Cada
capítulo da obra é introduzido com epígrafes interessantes, como “Sucesso é a capacidade de sair de um
fracasso para outro sem perder o entusiasmo”, de Winston Churchill, ou “Eu acredito muito na sorte: quanto mais eu
trabalho, mais sorte eu tenho”, de Thomas Jefferson, dentre outros. A
disposição do texto varia entre o destaque para trechos aleatórios proferidos
no interior do capítulo, “Se for para
vender, faço qualquer tipo de brincadeira, inclusive rio de mim mesmo. Esse
tipo de postura cria uma grande identificação com o consumidor” (p. 76), e
um texto-síntese sombreado, que funciona como um mix de aconselhamento ou de autopromoção pelas boas iniciativas
empreendidas, exibindo o “selo dedão
BOTTINI de qualidade”. Aliás, a leitura desse texto em destaque, das
epígrafes e das frases aleatórias dispensa a leitura da obra em geral, poupando
o leitor de folheá-lo até a última página, esperando ser surpreendido com
alguma novidade extraordinária, conforme o título promete.
Vá
até o final, se você é um leitor persistente como eu, mas não espere grandes
ensinamentos. Ausente de um suporte teórico, inexistente durante a obra, o
autor aposta numa narrativa narcísica da trajetória pessoal e profissional,
destacando o quanto ser perseverante e ambicioso, são características
indispensáveis para quem quer permanecer no ramo de vendas. E eu diria- em
qualquer ramo! A obra não tem atrativos especiais e o uso de verbos, na
primeira pessoa, e de pronomes, cuja referência central é ele mesmo, abunda
para relatar fatos prosaicos e pitorescos, descritos do primeiro ao último
capítulo. Fragmentos como “Desde pequeno,
eu dizia a minha mãe que não queria nada fácil na vida” (p. 20), “chegou um momento em que percebi que, por
melhor que fosse minha interação com o público, ainda perdia oportunidades por
causa do visual” (p. 80), ou ainda, “daquele
tempo até hoje, já dediquei 15 anos de minha vida em mais de vinte mil
apresentações ao vivo de mais de 100 mil produtos!” (p. 107) evidenciam o
quanto Bottini é uma pessoa como qualquer outra, que precisa de um tempo para
se afirmar profissionalmente, não só porque entrou no mercado fortuitamente, e
foi se qualificando aos poucos, como também, porque, para alcançar estabilidade
em qualquer área é preciso tempo, dedicação e sacrifício.
Além
disso, o autor se contradiz em relação aos seus próprios conhecimentos. Ele
declara ter sido empregado pela boa pronúncia de inglês, fruto de anos e anos
de um curso na adolescência (p.48) e, mais tarde, admite ter “um inglês
macarrônico” (p. 92), o que deixa o leitor, no mínimo desconfiado de suas
afirmações. O uso de frases dramáticas, “eu
jamais estaria ali se um dia não tivesse acreditado” (p.92), e de frases de
lugar-comum, “logo cedo, aprendi que, sem
sacrifício, ninguém consegue nada” (p.43), dentre outras, não permite
distinguir a voz de uma autoridade em vendas, a de um vizinho ou de um parente,
mais velho e experiente, aconselhando-nos sobre os embates da profissão e a
dureza do cotidiano. Se você espera um livro com dicas bem fundamentadas sobre
marketing ou vendas, esta obra não trará grandes acréscimos. Mas se você tem
tempo ou dinheiro sobrando, porque está à espera de um vôo, ganhou o livro de
brinde ou numa dessas festas de amigo oculto, ou ainda, comprou porque estava
em promoção, vá em frente! Se não for nenhum desses casos, melhor vendar os olhos, e será mais feliz!
*Resenhado por Williany Miranda Silva,
leitora involuntária de livros de marketing e de autoajuda, em 25 de agosto de
2014.