sexta-feira, 23 de abril de 2010

Para entender o outro





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. Nathalia Sátiro .




O livro “A escrita e o outro” de Lucília Garcez se originou a partir da tese de doutorado da autora.

A obra, com relação aos capítulos, é bem dividida e há uma ordem entre os capítulos e os subtítulos também, o que facilita para o leitor compreender o texto. Essa ordem diz respeito à fundamentação teórica (nos dois primeiros capítulos) e às metodologias e aplicação da tese (nos capítulos 3 e 4).

No primeiro capítulo são apresentadas pesquisas sobre a escrita e o modelo de redação nos estágios de pré-escrita (planejamento), escrita e reescrita, mas que segundo Garcez esse modelo foi colocado em dúvida pelos cognitivistas, que incluem “contexto da escrita, estímulo, pré-escrita, começo, elaboração textual, reformulação e edição” (GARCEZ, 1998, p. 26).

Ainda neste capítulo já se tem pistas de que a abordagem sociointeracionista vai permear todo o livro. Outro aspecto importante tratado é sobre a aprendizagem passar a ser um processo que depende da participação do outro e que por meio dessa interação aprendem o professor e o aluno. Acredito e concordo com esse ponto de vista, desde que o outro saiba como e quando­ interferir. Para isso a autora descreve características que o professor deve evitar, por exemplo: fazer com que o aluno utilize suas palavras ou expressões.

O segundo capítulo é de extrema importância para se entender o porquê desse projeto de investigação da autora, pois ela contextualiza de maneira clara e bem topicalizada um diálogo entre Vygotsky e Bakhtin acerca da linguagem, do caminho da internalização das idéias do “outro” e os papéis de quem escreve e de quem é esse “outro”. Compreende-se por meio dessa discussão como incorporamos as palavras do outro em nossa escrita, sejamos crianças, adolescentes ou novos adultos, sobre isso Bahktin comenta: “nossa fala, isto é, nossos enunciados (que incluem as obras literárias), está repleta de palavras dos outros” (BAHKTIN, apud GARCEZ, 1998, p.52). Também se percebe que há a estrutura triangular a qual Bakhtin menciona que contém: sujeito enunciador, destinatário virtual e destinatário superior, porque sempre escrevemos com o intuito de que alguém leia, então por isso, escrevemos para um destinatário virtual que está o tempo todo em nossa mente no momento da escrita.

Mais adiante chega-se ao terceiro capítulo que é esclarecedor quanto à metodologia da pesquisa sobre a participação do outro no processo de escrita. Para tanto a autora mostra que utilizou a pesquisa etnográfica para verificar o comportamento daquele grupo de alunos em relação a reescritura, por meio de questionários. Em busca da delimitação do campo de estudo, Garcez mostra as perguntas que permeiam a pesquisa e quais são: o campo, sujeito, métodos de análise e garantia de confiabilidade da pesquisa.




A pesquisa que deu corpus ao texto tem como sujeitos os alunos do terceiro ano do ensino médio de uma escola pública do Distrito Federal. A partir desse momento, no tópico “Os instrumentos de trabalho”, a autora mostra como funcionou cada etapa, bem detalhadamente.

Intitulado “Clareando os horizontes” apresenta-se o quarto capítulo. Esse título parece relacionado ao momento em que a pesquisa se concretiza e os dados e hipóteses são confirmados ou não. Através da comparação de dados é que a autora apresenta a análise de como o redator produz seu texto. Nota-se também o importante papel do professor para o aluno produtor do seu texto, pois com as devidas observações daquele, este passa a ser um leitor crítico do seu texto. Nesse capítulo são apresentados os textos de alguns alunos e suas reescrituras e também as opiniões dos alunos com relação a essa interação.

“A escrita e o outro” tem grande importância para os professores e para aqueles que estão estudando para se tornarem, pois com ele saberemos o que fazer e o que não fazer com os alunos, como orientá-los devidamente em seus textos, sem repreendê-los e sim os entendendo e não descaracterizando os textos deles com nossas palavras. Garcez mostra na prática como funciona o processo de escrita do redator e o outro que o direciona, mostrando textos de alunos que participaram da pesquisa e suas reescrituras. Poderíamos até identificar a existência do outro no texto, mas não sabíamos como identificá-lo e, com a leitura deste livro, esse processo de reconhecimento torna-se mais claro e fácil de ser compreendido.

Uma leitura indicada não só para os professores e futuros professores, mas também para todos os alunos, pois é relevante saber como funciona um processo de escrita que nos inclui e como se promove a interação do outro com o nosso texto.

Um comentário:

Rhávilla Rachel disse...

Achei muito legal a forma como este texto foi postado, o jornal foi um trabalho diferenciado. Ficou massa!