A escrita nas entrelinhas

Rochele Sidartha P.de Oliveira

Irandé Antunes é doutora em lingüística pela Universidade de Lisboa, com tese intitulada Aspectos da coesão do texto - uma análise em editoriais jornalísticos. Mestre em Lingüística pela Universidade Federal de Pernambuco. Seus estudos se concentram em três grandes áreas críticas da educação lingüística: a leitura, a escrita e a reflexão sobre a língua. Dentre suas obras, o livro “Lutar com Palavras - Coesão e Coerência” da editora parábola, tem a intenção de fixar algumas noções básicas acerca da propriedade textual da coesão e de sua relação com a coerência, com o objetivo de nos levar a desenvolver nossa competência para falar, ouvir, ler e escrever textos, com mais relevância, consistência e adequação. O livro é dividido em 11 capítulos, há uma disposição conveniente entre os capítulos e os subtítulos, que, na maioria das vezes, são questionamentos que se interligam para facilitar a compreensão e o entendimento do leitor.

No 1° capítulo ocorre uma reflexão sobre o estudo da língua, mostrando passo a passo o processo de escrever e as dificuldades existentes nesse ato. Segundo Irandé “escrever é, como falar, uma atividade de interação, de intercâmbio verbal” (ANTUNES, 2005, p.28).

Nos capítulos 2, 3 e 4 ocorre uma explicação detalhada do que seja coesão, qual a sua função e quais os procedimentos a serem tomados para a reiteração, associação e conexão de um texto. Procedimentos esses que são a repetição, a substituição, a seleção lexical e a conexão sintático-semântica, porém, nem sempre é necessário conter todos esses procedimentos em um texto, na maioria das vezes são utilizados em textos mais extensos.

Mais adiante estão os capítulos 5, 6, 7 e 8 que esclarecem sucessivamente os recursos da coesão: repetição, substituição, associação semântica entre as palavras e conexão. Demonstra os que são utilizados na repetição: a paráfrase, o paralelismo e a repetição propriamente dita. Pelo procedimento da repetição, recorremos à estratégia de voltar a um segmento anterior do texto, mantendo algum elemento da forma ou do conteúdo. O recurso da substituição, destaca que podemos nos referir a mesma palavra em um texto, utilizando uma equivalente, ou seja, substituir por outra sem que ocorra mudança de sentido. Este recurso é divido em gramatical e lexical. Em seguida, aborda a coesão pela associação semântica entre as palavras, que pode ser entendida também como coesão lexical do texto. Por fim, expõe o recurso da coesão pela conexão, que se refere ao uso de conectores, promovendo com isso a sequencialização do texto. Esta conexão é realizada por meio de conjunções, preposições, locuções conjuntivas e preposicionais, advérbios e locuções adverbiais. Nos capítulos 9 e 10 é retomada a importância de um texto coeso, relacionando o léxico, a gramática e a coerência.

Intitulado “Que a luta não seja vã...” apresenta-se o capítulo 11. Que vem em “defesa” da língua, e desmistifica a correlação da língua com a correção gramatical, pois na grande maioria das vezes só se estuda o português, para não “falar errado” ou para produzir um texto bem escrito sem muitos “erros”. Porém, devemos ver a língua de uma forma mais ampla, ela está inserida em tudo o que nos cerca, está relacionada com a história de toda uma sociedade, ou seja, a linguagem é um fenômeno social na medida em que exprime a relação que uma sociedade estabelece com o mundo.

O ato da escrita na maioria das vezes é prazeroso. Mas nem por isso deixa de ser difícil fazê-lo. Diante disso, o livro “Lutar com palavras - Coesão e coerência” contribui para que o leitor compreenda o que fazer para deixar o seu texto articulado, encadeado, coeso (harmonia interna entre as partes de um texto) e coerente (relação lógica entre idéias, situações ou acontecimentos). Sem estes dois elementos, o texto perde a intenção de comunicação, ou melhor, de intercomunicação. Escrito de maneira fluente, didaticamente articulado e com muitos exemplos, facilita a compreensão e interpretação de quem o está lendo. Uma leitura indicada não só para quem tem dificuldade com a escrita, mas também para os educadores, que encontra nele uma forma mais simples e objetiva de explicar determinados temas para seus alunos, pois escrever significa comunicar-se.