
Em 1971, dois amigos são encaminhados pelo presidente dos camponeses revolucionários até as montanhas Fênix, na região de Tianguan-China, para receber reeducação, pois viviam na cidade em contato com a cultura burguesa do grupo reacionário, que fazia oposição aos ideais defendidos pelos camponeses.
Nesse período, esses rapazes Ma Jianling e Luo se apaixonam por uma camponesa conhecida por “costureirinha” e juntos roubam livros “proibidos” com os quais ensinaram a moça a ler. Esses livros retratavam a cultura escrita ocidental, condenada pelos camponeses revolucionários, que influenciou significativamente no comportamento desses jovens, e principalmente no destino da “costureirinha”.
“Balzac e a costureirinha chinesa”, lançado no ano de 2002(França/China) e em 2004 no Brasil, é um belo filme, não apenas por seu magnífico aspecto fotográfico ou pela explanação singela do quadro romântico, mas, principalmente, pelo fato de atribuir à escrita o caráter transformacional do sujeito.
A “costureirinha” era apenas uma moça simples e acomodada em seu “mundinho camponês” até o momento em que os livros de Balzac, escritor francês, tiraram à venda da ignorância que pairava sobre seus olhos e fezeram-na enxergar, através da escrita ocidental, um novo mundo cheio de possibilidades. Os romances de Balzac transformaram seu pensamento ingênuo em uso reflexivo da razão.
Para a protagonista, os hábitos e costumes à sua volta passaram a ser questionados através de seu comportamento. Em determinado momento da trama, a “costureirinha” teceu e passou a usar um sutiã, peça desconhecida, até o momento, pelas moças da redondeza, que chocou seu avô, pois enquanto exibia essa peça para suas amigas, mencionava a expressão “O homem selvagem só tem sentimentos. O homem civilizado tem sentimentos e idéias”, fruto das leituras dos livros estrangeiros.
Em seguida, viveu com Luo uma ardente paixão, totalmente proibida na época, primeiro, porque não era casada e segundo, só tinha 18 anos de idade e a Lei só permitia o casamento aos 25. Após dois meses, a “costureirinha” descobriu que estava grávida e com a ajuda de Ma se submeteu ao aborto, também ilegal sem uma certidão de casamento.
Por fim, o destino da “costureirinha” é surpreendedor. Ao esperarmos que a “mocinha” se encontre no enlace de uma pacata vida camponesa matrimonial, a protagonista, sob a alegação de que Balzac a ensinou que: “a beleza de uma mulher é um tesouro sem preço”, corta seus cabelos, passa a usar tênis e decide ir à procura de uma nova forma de vida na cidade.

Nenhum comentário:
Postar um comentário