sexta-feira, 23 de abril de 2010

O be-a-bá da integração


Resenha sobre o filme “Escritores da Liberdade”, direção de Richard LaGravenese:
O be-a-bá da integração

Poderia ser apenas mais um filme que expõe a realidade de alunos rebeldes, membros de gangues e indisciplinados que representam um desafio a uma professora perseverante na sua crença de que é possível transformá-los. No entanto, o filme “Escritores da Liberdade” vai além, mostra a possibilidade de modificar essa difícil realidade dos alunos a partir de muita perseverança e dá uma lição de que tudo é possível no ambiente escolar quando alia-se a prática de ensino à condição social em que vivem.

Lançado em 2007, o filme retrata o desafio de uma professora novata, Erin Gruwell, que opta por lecionar em uma escola da periferia dos EUA, adepta ao sistema de integração de alunos que são de diferentes etnias ou advindos de reformatórios. Apesar das diferenças, possuem em comum a crença de que devem proteger apenas os membros de suas respectivas gangues e acreditam que o ambiente escolar é apenas mais um lugar para provar quem é o mais forte ou simplesmente conseguir sobreviver. Mesmo decepcionada com a realidade que encontrara, Erin não desiste e resolve integrar-se à vida desses jovens a fim de descobrir quais os problemas os envolviam. A solução encontrada foi o estímulo para que os alunos fizessem um diário sobre as suas vidas o que permitiu uma aproximação entre eles e a professora contribuindo para que buscassem maneiras de superar as dificuldades que enfrentavam, especialmente a discriminação.

A qualidade do filme deve-se em grande parte ao diretor Richard LaGravenese que parece estar incumbido em promover sempre a emoção aos telespectadores de maneira tão sutil que chega a ser inigualável. O filme “PS: Eu te amo” (2007), também de sua direção, que retrata a despedida de um casal apaixonado após a morte do marido, por exemplo, é mais uma manifestação da capacidade que ele possui em emocionar o público e, especialmente, reacender neste valores como o amor, a amizade e a solidariedade. No entanto, seu maior compromisso talvez deva estar voltado para a necessidade de disseminar em seus filmes a crença de que tudo é possível e de que todas as barreiras impostas pela sociedade ou pela vida podem ser superadas.

A atuação da atriz americana Hilary Swank também não passa despercebida neste filme, fica evidente por que ela mereceu ganhar dois Oscar como melhor atriz e tem mais de trinta trabalhos na área de longa metragem. Ela não apenas transparece a inexperiência profissional do personagem como também consegue, ao mesmo tempo, mostrar a sua personalidade forte e vivaz que a faz persistir na missão de ensinar seus alunos.

O sucesso deste filme poderia ter sido prejudicado se ele fosse apenas mais uma história ficcional. Porém, o fato de ser “Baseado em fatos reais” faz com que o telespectador tenha vontade de levantar-se da sua cadeira e tente mudar alguma coisa na sua vida ou na vida de outras pessoas. O mérito deve-se a essa professora e seus alunos que na vida real conseguiram expor uma nova possibilidade de ensino e, inclusive, procuram ainda disseminar essa metodologia pelas escolas americanas. A atitude do diretor em usar no final e no início do filme fragmentos da realidade, portanto, comove ainda mais o telespectador.

É impossível assistir um filme como este e não parar para refletir na realidade de ensino nas escolas, especialmente públicas. Ele mostra que não basta educá-los, é preciso torná-los cidadãos, que não basta amontoá-los em uma sala de aula, é preciso que se sintam parte de uma nova família, pois só assim haverá verdadeiramente uma integração, e que o professor não pode ver o ato de ensinar como um fardo, mas sim como um instrumento para emancipação do aluno. O filme “Escritores de Liberdade” ainda consegue promover uma reflexão sobre o uso do processo da escrita e da leitura, por parte da professora, com intuito de fomentar em seus alunos a possibilidade de desabafar as suas angústias e seus sentimentos mediante estas práticas e paralelamente torná-los leitores proficientes e bons escritores.

Por que, afinal, dedicar duas horas do seu dia para assistir este filme? Não é porque ele simplesmente fala de alunos rebeldes que se conscientizam de que devem mudar sua postura. A lição é muito mais ampla: ensina que nada na vida é fácil, mas que tudo pode ser superado com muita perseverança. Trata-se de um filme tão envolvente e encantador que se torna obrigatório não apenas para os educadores que lidam com a difícil realidade das salas de aula, mas também para qualquer pessoa que precisa ou deseja uma “injeção de ânimo” para fazer ou mudar algo em sua vida.

Laís de Souza Ribeiro

Um comentário:

Rhávilla Rachel disse...

De fato, este filme é muito bom! Enquanto professora, ele me ensinou a considerar as emoções dos alunos, tornando-as como parte do processo de aprendizagem.