sexta-feira, 30 de abril de 2010

GÊNEROS TEXTUAIS E UNIVERSIDADE: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO NA PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS

João Ricardo Pessoa Xavier de Siqueira¹




Que a verdade seja dita: escrever não é uma tarefa a qual se possa atribuir a característica da facilidade. Quando assim afirmo, refiro-me não a escrita da poesia ou de qualquer texto ao qual se possa atribuir a qualidade de literariedade, pois os que enveredam por tais caminhos podem valer-se da chamada “inspiração”, algo na maioria das vezes totalmente desconhecido dos “simples mor
tais” que por vezes tem que lidar com situações, nas quais, independentemente de suas vontades, devem cumprir prazos e atingir metas com a entrega de um “algo” escrito a “alguém” que irá ler.
Essa situação pode ser agravada a depender dos contextos de produção a serem enfrentados pelo escritor, afinal se seguíssemos a lógica da notável capacidade de adaptação do ser humano, esta também seria aplicada à escrita. Ora, se a humanidade foi capaz de sobreviver a tantas mudanças climáticas, crises econômicas, guerras mundiais e epidemias, porque sentimos tanta dificulda
de com a escrita de um “aparentemente” simples texto? A dificuldade, ao invés de ir desaparecendo com o tempo, parece aumentar na medida em que evoluímos enquanto escritores e temos que nos adequar a contextos de produção cada vez mais exigentes.
Situemo-nos agora no trajeto específico seguido regularmente por milhares de estudantes brasileiros, egressos do Ensino Médio e ingressos na Universidade. O percurso escola – academia, é por muitas vezes trilhado como um verdadeiro caminho de pedras por esses indivíduos que, ao se depararem com uma nova situação de escrita, terão que manipular gêneros até então desconhecidos e adequar seu estilo a um púbico mais exigente e de senso crítico mais aguçado. Isso se tomarmos co
mo ponto de partida um modelo ideal de indivíduo sem problemas com parâmetros de textualização (MEURER, 1994)², a exemplo da coerência e da organização coesiva do texto (ANTUNES, 2007)³, questões que, teoricamente, já deveriam vir bem resolvidas desde o Ensino Médio.
Enfim, se a Universidade é lugar de produção de conhecimento cientifico, deveríamos fazê-lo de modo planejado, moderando nossos discursos institucionais, processando idéias armazenadas em nossa memória de longo termo, traduzindo-as de acordo com o pedido pelo contexto da tarefa, seguindo instruções, revisando e corrigindo o texto.
Se o plano acima fosse tão fácil de ser cumprido, os problemas com a escrita, principalmente no ambiente universitário, deixariam de existir. Longe de se comprometerem a solucionar tarefa tão difícil e provavelmente impossível de ser realizada em uma obra de tão limitadas dimensões, Anna Rachel Machado, Eliane
-->Lousada e Lília Santos Abreu-Tardelli, autoras de Planejar gêneros acadêmicos, deixam claro na introdução da obra que seu objetivo é voltar-se às atividades de planejamento que antecedem a produção de textos acadêmicos.
O leitor desavisado poderia esperar da obra um elenco exaustivo de todos os
gêneros praticados na universidade, desde o simples fichamento até o temido trabalho de conclusão de curso, tudo devidamente encaixado e bem explicado em suas formas e padrõe
s exigidos pela ABNT. As autoras, contudo, quebram a expectativa de tal leitor ao defenderem a acertada posição de que o mero ensino da organização do gênero não é suficiente para atender às exigências de um texto adequado à situação, a seus destinatários e a seus objetivos.
Publicado, e já em sua segunda edição pela Editora Parábola, Planejar gêneros acadêmicos é o terceiro volume de uma coleção que se propõe a levar o leitor a refletir, compreender e produzir textos que se enquadram em gêneros técnicos e acadêmicos. Precedido por dois volumes anteriores (Resumo e Resenha) o presente trabalho das autoras voltar-se-á agora menos ao trabalho com o texto propriamente dito, e se preocupará mais com o desenvolvimento das habilidades do produtor de textos acadêmicos, desde a capacidade de buscar temas relevantes, até aquela que compre
ende tanto o planejamento como a organização global dos conteúdos.
Ao longo de suas treze seções, o leitor é convidado não a apenas assimilar um conteúdo previamente selecionado, mas a construir, a partir dos inúmeros exercícios propostos, um conhecimento próprio sobre questões atinentes ao planejamento e desenvolvimento de textos acadêmicos. O que poderia ser uma das virtudes do livro, qual seja, a intenção em interagir constantemente com o leitor através dos seus variados exercícios, passa a ser também um p
rovável defeito à medida que se percebe a falta de um embasamento teórico que ofereça mais segurança ao iniciante nesses gêneros e que talvez busque nesta obra uma espécie de manual. A maioria das seções apresenta apenas um parágrafo de reflexão teórica, posteriormente a teoria fica a cargo de pequenos balões que aparecem de forma constante durante os exercícios sob a rubrica de conselho útil.
Partindo de uma influência sociointeracionista, na qual a participação do outro é essencial ao processo de aprendizagem, muitos exercícios propõem que o leitor troque e compare seus textos com os de outros colegas. A própria seção contendo as respostas aos exercícios é pauta
da nessa perspectiva de escrita, na qual “o conhecimento é mediado pelo par mais desenvolvido, que serve de suporte temporário e ajustável (...) e que leva o estudante a usar as estratégias de forma independente.”4
Internamente, os capítulos/seções são estruturados de forma bem contextualizada, iniciando-se de modo a propiciar ao leitor uma prévia do assunto a ser trabalhado, concluindo-se com uma recapitulação e uma subseção (Para continuar a conversa) que objetiva levar a reflexão para
ambientes extra-livro, na qual o leitor é sempre incentivado a reler textos por ele já produzidos, buscar textos relacionados à sua pesquisa e inclusive produzir um diário de pesquisa.
Merece destaque ainda a bibliografia sugerida pelas autoras contendo indicações d
e obras e sites da internet sobre produção de gêneros acadêmicos para aqueles interessados em se aprofundar no assunto.

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¹Graduando em Letras pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.
²A esse respeito, ler “Esboço de um modelo de produção de textos” in MEURER, J. L. e MOTTA-ROTH, Desirée (orgs.) Parâmetros de textualização. p. 14-28. Santa Maria: UFSM, 1997.
³ Na obra Lutar com palavras: coesão e coerência (Editora Parábola, 3ª ed. 2007) Irandé Antunes aborda os aspectos teóricos a respeito das relações textuais de coesão e coerência, de forma clara, objetiva e acessível para os principiantes em estudos sobre linguagem.
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4 in MEURER, J. L. e MOTTA-ROTH, Desirée (orgs.) Parâmetros de textualização. Santa Maria: UFSM, 1997.

3 comentários:

raianacosta disse...

Verdade seja dita,é muito difícil para um aluno que saiu do Ensino Médio recentemente já ter que encarar tantas regras e exigências por parte da Academia.No entanto,é isso que o faz crescer e entender que o vestibular é apenas uma pequena etapa de uma longa estrada que é aberta para sua formação.
A elaboração de livros que auxiliam nas produções de exigências acadêmicas,são de sumo valor para aqueles que,de fato, desejam atender as expectativas dos mestres e romper com as dificuldades!

Williany disse...

Vejam só, acho que a resenha desse livro é de muita importância para a turma atual de PLPT II, que ainda não entrou no ritmo necessário para entender as demandas de práticas letradas necessárias ao convívio do Curso. Recomende-o.

Cláudia Regina disse...

muito dificio me assustei mas um dia eu chego la o mas dificio foi chegar na universidade e eu consegui agora e so uma questao de esforço e determinaçao